desnecessário desvendar o mistério do encontro de solidões

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abro os olhos pela manhã e me invade em pensamentos o que preciso fazer
Visualizo quem preciso atender para provar minha existência
e noto
estou só

me visto ou sigo de pijamas
o que parecer mais entregue ao outro
à indagação do que ele vai pensar
mas, me lembro, de súbito
estou só

escuto música
sons do que vivi outrora e do que ainda posso viver com alguém
a quem agrada o que escuto?
e me toma a sensação:
estou só

preparo comida e me devoram os desejos de outros
-o que vou cozinhar? de que temperos preciso
para conquistar?
e, de repente, percebo
estou só

entro no banho
penso na temperatura da água, no tempo que gasto, nos produtos que uso
será que alguém vai se orgulhar
olho pra fora
estou só

em uma decisão
penso no grupo que vai me apoiar, lembro de outro que vai me julgar
e minhas mãos vazias revelam
estou só

a escrita surge em mim
penso em quem vai ler, será que me vão sentir
ou sequer terminar
noto minha respiração e com ela
a clareza
estou só

me percebo em encontro real com outros
penso no que vou falar, no que vou fazer
tento perceber o que sentem
numa corrida para agradar
toco minha pele
estou só

quando me percebo assim só sem nada que me convença
a ser ou fazer qualquer coisa
eu deixo a solidão me percorrer

sinto sinto sinto

vasta solidão
tão ampla
toca outras
todas as outras